Como gostar de exercício físico?

2 de setembro de 2021

Esta é uma pergunta de Um milhão de reais pra quem não gosta de exercício físico. Tenho
certeza que você é uma dessas três pessoas:
A) Ama e sempre amou exercício físico e não entende como as pessoas não gostam;
B) Odeia exercício físico, não acha que é possível fazer exercício físico com prazer e ainda
acha pessoas que gostam estranhas;
C) Não gostava, mas começou a fazer por algum motivo, descobriu que é possível gostar
e queria que todo mundo sentisse a mesma coisa, porque SIM, é possível ter prazer
fazendo exercício físico.
É importante dizer que se alimentar saudável tem uma relação direta com o impulso de
praticar atividade física e o contrário é exatamente o mesmo: praticar atividade física te
impulsiona a comer melhor e a ciência explica.

Informação técnica
Na edição anterior foi explicada como os hormônios agem em efeito cascata, e aqui vai
um resumo de forma simples: os substratos que foram citados (serotonina e dopamina) são
conhecidos como hormônios, mas eles fazem parte de um grupo chamado
neurotransmissores.
Como o próprio nome já sugere, os neurotransmissores têm a função de estimular,
equilibrar e transportar sinais entre os neurônios, ou seja, têm função de transmissão de
mensagem. Esses mensageiros podem alterar muitas funções do nosso sistema, desde
sensações emocionais, batimento cardíaco, sono, apetite, humor e tantas outras. Dessa forma
é possível entender e associar que quando um desses mensageiros está em quantidade
insuficiente ou com sua função prejudicada por algum agente endógeno ou exógeno, outros
neurotransmissores irão ter suas funções também prejudicadas sobre efeito cascata. Para que
essa informação seja passada eficientemente é importante que outros processos envolvidos
nisso estejam funcionando bem, por exemplo: os receptores pós-sinápticos precisam estar
íntegros para que a mensagem aconteça. E parte desses processos se mantém íntegros a partir
da sua alimentação. Ao final do artigo tem um link de um vídeo simples de como entender
esse processo sináptico. O vídeo dura menos de 5 minutos, vale a pena.
O neurotransmissor estudado hoje aqui é a dopamina. Na edição dois do jornal, foi
visto que uma das vias de produção dele é a partir serotonina. Mas a forma mais eficaz e
garantida de produção é através da atividade física ou execução de tarefas.
A dopamina tem uma importante função de coordenação motora, ou seja, dos
movimentos do corpo. Além de ser o neurotransmissor diretamente relacionado com o foco e
concentração e motivação.
Para entender de forma prática “quem é” a dopamina: ele é aquele momento que
você fala “Eu consegui fazer” e te da uma sensação de dever cumprido. Pronto, essa é a
dopamina!

Sintomas de baixa dopamina:
– Baixa libido
– Falta de concentração
– Desmotivação
– Procrastinação
– Apatia
– Fadiga
– Sensação de que não sente mais prazer como nada

Se você se viu nessa lista, segue abaixo o que fazer para reverter esse quadro.
Alimentação
A produção de dopamina pela via alimentar é através de um aminoácido chamado
tirosina, que é um composto produzido a partir da fenilalanina.
Aquela listinha linda:
1. Peixes e carnes
2. Amêndoa
3. Feijões
4. Abacate
5. Semente de abóbora
6. Cúrcuma
7. Chá verde
8. Café
9. Nozes
10. Castanhas
11. Ervilha
12. Cacau
13. Banana
14. Maçã
A inclusão desses alimentos na sua rotina favorece a produção de dopamina, porém é
importante saber que a maior parte da sua produção se da através da atividade física. Existe
também um suplemento chamado NALT, que é usado para melhorar o desempenho mental.

Fitoterápica
Existe um suplemento chamado Mucuna pruriens, que é uma leguminosa usada para
elevar os níveis de dopamina. Ela é muito usada no tratamento de pacientes com doença de
Parkinson que tem como característica uma grande diminuição de dopamina, por isso um dos
sintomas da doença de Parkinson são tremores. Como a dopamina está diretamente
relacionada à libido, o uso desse fitoterápico tem também relação com aumento do apetite
sexual.

Conclusão
Mas de que forma isso tudo vai ajudar o prazer com a atividade física?
A relação direta com alimentação X atividade física X dopamina é que quando há o aumento
do consumo de alimentos que favorecem a produção de dopamina, essa sensação de prazer é
processada pelo cérebro como uma espécie de recompensa, o mesmo acontece quando os
níveis de dopamina são estimulados através da atividade física, logo, com o passar do tempo, a
prática de atividade física inicialmente feita a partir de uma mudança de hábito, que partiu de
forma consciente, passa a ser benéfico para o corpo em muitos aspectos: aumento da libido,
sono regulado, maior concentração e foco, motivação para começar o dia e a mais importante
de todas que é a SENSAÇÃO do prazer. Quando essa mudança que partiu de um hábito novo,
com o tempo é possível perceber que há uma necessidade física de se manter a prática de
atividade física e é neste momento que é possível notar o prazer em fazer a atividade física.
Leva tempo, é necessário disciplina a princípio, mas é um caminho garantido de
plenitude. Acredite: você é capaz!

Curiosidade
Sobre a fenilalanina citada no item “alimentação”, existe uma patologia chamada
fenilcetonúria em que a pessoa não tem a capacidade de metabolizar o aminoácido
fenilalanina pela ausência de uma enzima chamada fenilalanina hidroxilase e sem essa enzima
os níveis de fenilalanina ficam elevados e seus efeitos são tóxicos para o sistema nervoso.
Então ele não pode consumir NENHUM alimento que tenha esse composto em sua composição
e PASMEM: todos os alimentos ricos em proteína são ricos em fenilalanina, tanto os de origem
animal quanto de origem vegetal. Esta é uma patologia conhecida como erro inato, ou seja, a
pessoa já nasce com ela. A detecção dessa disfunção é feita no teste do pezinho e é
caracterizada por uma mutação genética em que o pai e a mãe passam genes defeituosos para
o bebê. As causas ainda não são muito esclarecidas, mas alguns estudos mostram que há uma
relação com consanguinidade, ou seja, filhos de pais que têm o mesmo sangue: irmãos, primos,
pai e filha. O tratamento é apenas com dieta: a pessoa não pode comer NENHUM alimento de
origem animal (nem derivados) e nenhum alimento de origem vegetal rico em proteína. Então
a alimentação é basicamente carboidrato e gordura e ele passará o resto de sua vida tomando
um complexo de aminoácidos chamado PKU. Este complexo é fornecido pelo governo aqui no
Brasil. Caso esse erro inato não seja detectado precocemente, os pacientes podem ter atraso
intelectual e de desenvolvimento, problemas comportamentais, hiperatividade, convulsão ou
até microcefalia.